domingo, 20 de março de 2011

há belezas.




Há beleza que veste as cores que a gente não vê, e não deixa de ser coisa de carne, vermelho, vistoso, bonito. Veste levezas gostosas de carregar até no bolso, na bolsa, no pescoço, e por onde se quer andar. Toca estes ombros em um encontro doce, fervente, delicado, vermelho morno. Pisa firme nesses pés ..nesse caminho terra e verde... não importando a chegada, a partida ou o destino: o nosso já é estar em terra percorrendo nós mesmos. Segue inaudível  pra ouvidos habituados aos passos firmes, gritantes e dolorosos, estraçalhando corações na estrada. Há beleza que a gente não grita, sugere.

Sugere um papel, como num sinal de escrita em branco, em que todo branco é um colorido na sutileza de um par de cores. Uma coisa de sol poente, que não ferve no rosto, mas brilha nos olhos. Brilho de coisa que gente gasta numa procura mais seletiva no céu da cidade, onde não é fácil achar a estrela preferida. Há coisas de sentar nessa sombra, toalha xadrez, frutas frescas e ter colo dessa carne. Há beleza que a gente não faz, olha.

Olha como é harmônico esse mundo que se move nesse contorno de alguém, de tantos alguéns. O que há em se dedicar tardes aos objetos de seu lar?(.) Combina as vestes das camas, de si, dos armários, dos amores, dos queridos, dos desejos. Há furacões nesses invisíveis, pregados nas paredes, expostos nos tetos, pendurados nos cabides, empoeirados na estante dos livros. Há muito grito nessa sua beleza, grito não audível. Há beleza que sai e não bate a porta.

Batendo a porta, entrando na casa, invadindo todos os cômodos, bagunçando a sala, ordenando a vida... a gente também gosta dessas brutalidades gritantes. Mas há tanto movimento nesse seu silêncio também.... esse silenciar ensurdecedor nesses ladrinhos da casa. Seus pertences no armário dizem mais que seus livros na mesa da sala. Meus brincos nas orelhas dizem mais que o lindo decote do meu vermelho vestido. Há beleza que está no menos e não no banho cama e mesa.

Mesa cabendo nossos espaços, de dois copos, dois pratos, quatro talheres e vista bonita pro jardim da estrada.....que vai e vem tanta gente,tantas lágrimas,tantas dores, outros lares, outros vermelhos, outros brincos, outros armários, outras belezas.

há beleza vai embora e deixa um bilhete
dizendo de tão longa demora
e volta sempre outra
sempre inédita
sempre linda
há beleza que vai...mas sempre volta.

o beijo no bilhete, o ranger leve da porta....você está indo ou voltando?


terça-feira, 15 de março de 2011

velho novo novo velho amor

tua dos pés ao rosto
não nessa ordem
ou não nesse gosto
cálida florescendo nesse teu chão, teu teto
nessas paredes que contornam o doce espaço
suave..vermelho morno...como o soar do sino
às 16 na capela do monte verde e sol poente
doce como mel da laranjeira
escorrendo livre nessa boca ainda inédita pra um sabor tão já teu
forte nesse tufão
voraz vento que leva teus cabelos pra um lar branco e feito meu travesseiro
livre como onda pequeníssima
não esperando ir tão longe num mar distante
e chegando  enorme ao meio do oceano
riso solto nas esquinas
onde rir é sempre a melhor saída
lágrima ainda quente nesses olhos
levando ainda a exata dor desse sofrimento
mãos dadas no caminho
como se não houvesse outro jeito de ser
entre laços com gosto de alguém aqui
aqui até reticências
...