eu escrevendo nessa hora tão sórdida, poderia fazer algo que você considerasse mais sustentável nesse momento de desligamento . quem disse que desligar-se é sustentável? escrevo os meus cigarros no meu pulmão, as mil folhas amassadas na mesa de madeira da sala. o vinho pela metade na taça. você acabou de largá-lo para dizer que ainda me ama e vem amanhã. ver o nascer do sol comigo. nós com nossos lençóis, nossos gemidos, nosso acalanto. será uma manhã laranja morna. mas eu quero ir.você vai .já terei partido. quem disse que tudo é explicável? e, ainda, o desligamento sustentável? beijos. taça quebrada no chão. nós tingidos de roxo. lágrimas diluindo seu vinho preferido.
domingo, 8 de abril de 2012
sábado, 7 de abril de 2012
dedilhar vermelhamente ou inveja agridoce
Encontro você a dedilhar a mesa do bar.
O primeiro sinal de perigo estava instalado em todos os cantos desconhecidos do meu corpo.
Uma atmosfera enevoada junto à meia luz cobre seus olhos.
Seus dedos, sem pressa, tocando a superfície de pedra, menos fria ao toque visivelmente avermelhado dessas suas mãos.
Agradeci o gesto bondoso da névoa diminuindo o ritmo de meus passos até ver de perto você a dedilhar.
Meu corpo foi compreendendo o perigo e acabou vencendo a névoa na brincadeira de revelar não só seus olhos, mas também a força tímida com que suas mãos se apertavam, e continuavam a dedilhar aquela mesa, que foi, aos poucos, sendo o maior alvo da minha inveja. Inveja agridoce.
De repente, me encontrava com os olhos melindrosos que já tomavam conta de todos os cantos da mesa, todos os copos, querendo eu que percorressem um caminho quase instantâneo até minha nuca, que tinha cada pequeno fio abalado pela nova presença.
Os fios soltos de cabelo pelo seu rosto aceitaram participar da brincadeira e juntaram-se aos olhos, não sabendo que, agora juntos, provocavam minha presença, sem saber, vorazmente, silenciosamente.
Todo o resto de cada canto desse novo corpo foi encontrando espaço em meus olhos para crescer nessa brincadeira, a vertigem começou a rir de mim.
Sua presença era um veludo que estava ralando a minha pele.
A doce ameaça embriagou minhas mãos, que insistiam na tarefa de sustentar meu pescoço e quase o resto de toda minha cabeça, meus braços, amolecidos, deixando que as mãos cumprissem sua missão de sustento, meu ventre, sonhando ser aquecido com o calor avermelhado das mãos que dedilhavam a mesa, minhas pernas, profundamente desejantes de serem instaladas entre as suas, e meus pés, que neste momento ao menos sabiam que ainda existiam.
Cada canto de você foi propondo o desafio de me derrubar naquela noite, naquele momento. Pequenas partes de você encontravam meu corpo aflito pelo encontro, suas partes sorriam maleficamente pra mim.
A densidade do ar tornava-se insuportável, e não entender seu corpo indo embora foi fundamental pra que minha carne segurasse meus ossos e eles continuarem no esforço de manterem-se vivos, respirando, dentro do meu ser. O ar também esforçava-se para entrar na brincadeira.
Mantenho os olhos longe das linhas que delimitam suas costas, os copos querem estilhaçar no chão e minhas unhas permanecerem fincadas em você, acabando com o dedilhar na pedra fria, transferindo os seus dedos até a nuca, precisando ser sustentada por esses ossos tão fracos.
Você vai, minha carne continua inteira, menos vermelha de você, porém.
Escrever é um dos jeitos mais deliciosos de encontrar você novamente. Por isso, e por outros motivos, eu te escrevo antes de qualquer coisa.
O primeiro sinal de perigo estava instalado em todos os cantos desconhecidos do meu corpo.
Uma atmosfera enevoada junto à meia luz cobre seus olhos.
Seus dedos, sem pressa, tocando a superfície de pedra, menos fria ao toque visivelmente avermelhado dessas suas mãos.
Agradeci o gesto bondoso da névoa diminuindo o ritmo de meus passos até ver de perto você a dedilhar.
Meu corpo foi compreendendo o perigo e acabou vencendo a névoa na brincadeira de revelar não só seus olhos, mas também a força tímida com que suas mãos se apertavam, e continuavam a dedilhar aquela mesa, que foi, aos poucos, sendo o maior alvo da minha inveja. Inveja agridoce.
De repente, me encontrava com os olhos melindrosos que já tomavam conta de todos os cantos da mesa, todos os copos, querendo eu que percorressem um caminho quase instantâneo até minha nuca, que tinha cada pequeno fio abalado pela nova presença.
Os fios soltos de cabelo pelo seu rosto aceitaram participar da brincadeira e juntaram-se aos olhos, não sabendo que, agora juntos, provocavam minha presença, sem saber, vorazmente, silenciosamente.
Todo o resto de cada canto desse novo corpo foi encontrando espaço em meus olhos para crescer nessa brincadeira, a vertigem começou a rir de mim.
Sua presença era um veludo que estava ralando a minha pele.
A doce ameaça embriagou minhas mãos, que insistiam na tarefa de sustentar meu pescoço e quase o resto de toda minha cabeça, meus braços, amolecidos, deixando que as mãos cumprissem sua missão de sustento, meu ventre, sonhando ser aquecido com o calor avermelhado das mãos que dedilhavam a mesa, minhas pernas, profundamente desejantes de serem instaladas entre as suas, e meus pés, que neste momento ao menos sabiam que ainda existiam.
Cada canto de você foi propondo o desafio de me derrubar naquela noite, naquele momento. Pequenas partes de você encontravam meu corpo aflito pelo encontro, suas partes sorriam maleficamente pra mim.
A densidade do ar tornava-se insuportável, e não entender seu corpo indo embora foi fundamental pra que minha carne segurasse meus ossos e eles continuarem no esforço de manterem-se vivos, respirando, dentro do meu ser. O ar também esforçava-se para entrar na brincadeira.
Mantenho os olhos longe das linhas que delimitam suas costas, os copos querem estilhaçar no chão e minhas unhas permanecerem fincadas em você, acabando com o dedilhar na pedra fria, transferindo os seus dedos até a nuca, precisando ser sustentada por esses ossos tão fracos.
Você vai, minha carne continua inteira, menos vermelha de você, porém.
Escrever é um dos jeitos mais deliciosos de encontrar você novamente. Por isso, e por outros motivos, eu te escrevo antes de qualquer coisa.
domingo, 1 de abril de 2012
o bom filho à casa sempre retorna
Dizem que os bons filhos à casa sempre retornam...o papel virgem, o lápis de ponta recente, o teclado totalmente disponível, no caso, deixando bem claro.
Como é possível desertar os papéis? Abandonar as fisgadas literárias que invadem o pensamento enquanto esperamos o metrô, o ônibus, o amigo, a aula chata acabar, o trabalho interminável terminar, etc etc etc.
Eu jamais saberia responder. A única coisa de que tenho indícios é minha falta de disciplina, até mesmo com meus afetos, com o que revira meu corpo e deixa o ar ser o segundo plano para viver.
Vejo quase todos os dias uma mão tocando a barriga avolumada de seu bebê que ainda vai chegar no mar de gente das ruas às seis da tarde, um menino dividindo a pouca comida (sofrida e custosa) com seu amigo cão na calçada, alguém sendo paciente com a impaciência alheia, um vaso de flores coloridas na calçada cinza e branca no centro da cidade, tantas coisas mais....tantas.
Mas, por algum motivo ainda desconhecido, estou cada vez mais paralisada diante das pequenas pílulas de vida cotidiana que encontro todo dia por aí. Alguns sabem da diferença que faço sobre cotidiano e rotina. Talvez seja uma das marcas mais importantes que a Terapia Ocupacional traz para minha vida.
Como olhar para o que faz e entender as mensagens de como se faz, e não só o que se faz?
São muito lindos, vivos e móveis os mecanismos que arranjamos pras coisas que fazemos todos os dias. A tudo isso sempre gostei de emprestar um pouco as palavras, ora frases completas e longas, ora praticamente só pontos finais e sílabas alternadas. Tudo muito variável, e a vida, eu acredito, de vez em quando, que foi feita pra me paralisar diante de tanta força e beleza que insiste.
Mas segue a pergunta que tenho feito insistentemente pra mim: Por que permanecer ainda congelada diante da possibilidade de registro?
Há aí uma certa incompatibilidade entre a maneira que escolhi como registro das belezas miúdas e a possibilidade delas serem inenarráveis pela palavra? eu ainda não sei...
O que sei é que essa coisa de perguntar é boa...Pessoas muito importantes tem me dito que mais importante que as respostas que arranjamos pras perguntas que fazemos é continuar a fazer as próprias perguntas. Acho que acabei gostando de escrever as perguntas. E ainda tô nessa.
Tô nessa ainda....mas a diferença é que algumas coisas saíram agora, por motivos vários, tantos que fica difícil falar. Então eu escrevo.
Nem hoje, nem agora, mas o que eu posso dizer é que voltei, e agora é pra ficar.
Obrigada, palavras, pela grande paciência, e pela eterna chance de sempre poder voltar.
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