Encontro você a dedilhar a mesa do bar.
O primeiro sinal de perigo estava instalado em todos os cantos desconhecidos do meu corpo.
Uma atmosfera enevoada junto à meia luz cobre seus olhos.
Seus dedos, sem pressa, tocando a superfície de pedra, menos fria ao toque visivelmente avermelhado dessas suas mãos.
Agradeci o gesto bondoso da névoa diminuindo o ritmo de meus passos até ver de perto você a dedilhar.
Meu corpo foi compreendendo o perigo e acabou vencendo a névoa na brincadeira de revelar não só seus olhos, mas também a força tímida com que suas mãos se apertavam, e continuavam a dedilhar aquela mesa, que foi, aos poucos, sendo o maior alvo da minha inveja. Inveja agridoce.
De repente, me encontrava com os olhos melindrosos que já tomavam conta de todos os cantos da mesa, todos os copos, querendo eu que percorressem um caminho quase instantâneo até minha nuca, que tinha cada pequeno fio abalado pela nova presença.
Os fios soltos de cabelo pelo seu rosto aceitaram participar da brincadeira e juntaram-se aos olhos, não sabendo que, agora juntos, provocavam minha presença, sem saber, vorazmente, silenciosamente.
Todo o resto de cada canto desse novo corpo foi encontrando espaço em meus olhos para crescer nessa brincadeira, a vertigem começou a rir de mim.
Sua presença era um veludo que estava ralando a minha pele.
A doce ameaça embriagou minhas mãos, que insistiam na tarefa de sustentar meu pescoço e quase o resto de toda minha cabeça, meus braços, amolecidos, deixando que as mãos cumprissem sua missão de sustento, meu ventre, sonhando ser aquecido com o calor avermelhado das mãos que dedilhavam a mesa, minhas pernas, profundamente desejantes de serem instaladas entre as suas, e meus pés, que neste momento ao menos sabiam que ainda existiam.
Cada canto de você foi propondo o desafio de me derrubar naquela noite, naquele momento. Pequenas partes de você encontravam meu corpo aflito pelo encontro, suas partes sorriam maleficamente pra mim.
A densidade do ar tornava-se insuportável, e não entender seu corpo indo embora foi fundamental pra que minha carne segurasse meus ossos e eles continuarem no esforço de manterem-se vivos, respirando, dentro do meu ser. O ar também esforçava-se para entrar na brincadeira.
Mantenho os olhos longe das linhas que delimitam suas costas, os copos querem estilhaçar no chão e minhas unhas permanecerem fincadas em você, acabando com o dedilhar na pedra fria, transferindo os seus dedos até a nuca, precisando ser sustentada por esses ossos tão fracos.
Você vai, minha carne continua inteira, menos vermelha de você, porém.
Escrever é um dos jeitos mais deliciosos de encontrar você novamente. Por isso, e por outros motivos, eu te escrevo antes de qualquer coisa.
O primeiro sinal de perigo estava instalado em todos os cantos desconhecidos do meu corpo.
Uma atmosfera enevoada junto à meia luz cobre seus olhos.
Seus dedos, sem pressa, tocando a superfície de pedra, menos fria ao toque visivelmente avermelhado dessas suas mãos.
Agradeci o gesto bondoso da névoa diminuindo o ritmo de meus passos até ver de perto você a dedilhar.
Meu corpo foi compreendendo o perigo e acabou vencendo a névoa na brincadeira de revelar não só seus olhos, mas também a força tímida com que suas mãos se apertavam, e continuavam a dedilhar aquela mesa, que foi, aos poucos, sendo o maior alvo da minha inveja. Inveja agridoce.
De repente, me encontrava com os olhos melindrosos que já tomavam conta de todos os cantos da mesa, todos os copos, querendo eu que percorressem um caminho quase instantâneo até minha nuca, que tinha cada pequeno fio abalado pela nova presença.
Os fios soltos de cabelo pelo seu rosto aceitaram participar da brincadeira e juntaram-se aos olhos, não sabendo que, agora juntos, provocavam minha presença, sem saber, vorazmente, silenciosamente.
Todo o resto de cada canto desse novo corpo foi encontrando espaço em meus olhos para crescer nessa brincadeira, a vertigem começou a rir de mim.
Sua presença era um veludo que estava ralando a minha pele.
A doce ameaça embriagou minhas mãos, que insistiam na tarefa de sustentar meu pescoço e quase o resto de toda minha cabeça, meus braços, amolecidos, deixando que as mãos cumprissem sua missão de sustento, meu ventre, sonhando ser aquecido com o calor avermelhado das mãos que dedilhavam a mesa, minhas pernas, profundamente desejantes de serem instaladas entre as suas, e meus pés, que neste momento ao menos sabiam que ainda existiam.
Cada canto de você foi propondo o desafio de me derrubar naquela noite, naquele momento. Pequenas partes de você encontravam meu corpo aflito pelo encontro, suas partes sorriam maleficamente pra mim.
A densidade do ar tornava-se insuportável, e não entender seu corpo indo embora foi fundamental pra que minha carne segurasse meus ossos e eles continuarem no esforço de manterem-se vivos, respirando, dentro do meu ser. O ar também esforçava-se para entrar na brincadeira.
Mantenho os olhos longe das linhas que delimitam suas costas, os copos querem estilhaçar no chão e minhas unhas permanecerem fincadas em você, acabando com o dedilhar na pedra fria, transferindo os seus dedos até a nuca, precisando ser sustentada por esses ossos tão fracos.
Você vai, minha carne continua inteira, menos vermelha de você, porém.
Escrever é um dos jeitos mais deliciosos de encontrar você novamente. Por isso, e por outros motivos, eu te escrevo antes de qualquer coisa.
Vou usar uma das palavras que mais gosto: simplesmente ORGÂNICO!
ResponderExcluiruau
ResponderExcluirclap clap clap =D