domingo, 1 de abril de 2012

o bom filho à casa sempre retorna

Dizem que os bons filhos à casa sempre retornam...o papel virgem, o lápis de ponta recente, o teclado totalmente disponível, no caso, deixando bem claro.
Como é possível desertar os papéis? Abandonar as fisgadas literárias que invadem o pensamento enquanto esperamos o metrô, o ônibus, o amigo, a aula chata acabar, o trabalho interminável terminar, etc etc etc.
Eu jamais saberia responder. A única coisa de que tenho indícios é minha falta de disciplina, até mesmo com meus afetos, com o que revira meu corpo e deixa o ar ser o segundo plano para viver.
Vejo quase todos os dias uma mão tocando a barriga avolumada de seu bebê que ainda vai chegar no mar de gente das ruas às seis da tarde, um menino dividindo a pouca comida (sofrida e custosa) com seu amigo cão na calçada, alguém sendo paciente com a impaciência alheia, um vaso de flores coloridas na calçada cinza e branca no centro da cidade, tantas coisas mais....tantas.
Mas, por algum motivo ainda desconhecido, estou cada vez mais paralisada diante das pequenas pílulas de vida cotidiana que encontro todo dia por aí. Alguns sabem da diferença que faço sobre cotidiano e rotina. Talvez seja uma das marcas mais importantes que a Terapia Ocupacional traz para minha vida.
Como olhar para o que faz e entender as mensagens de como se faz, e não só o que se faz?
São muito lindos, vivos e móveis os mecanismos que arranjamos pras coisas que fazemos todos os dias. A tudo isso sempre gostei de emprestar um pouco as palavras, ora frases completas e longas, ora praticamente só pontos finais e sílabas alternadas. Tudo muito variável, e a vida, eu acredito, de vez em quando, que foi feita pra me paralisar diante de tanta força e beleza que insiste.
Mas segue a pergunta que tenho feito insistentemente pra mim: Por que permanecer ainda congelada diante da possibilidade de registro?
Há aí uma certa incompatibilidade entre a maneira que escolhi como registro das belezas miúdas e a possibilidade delas serem inenarráveis pela palavra? eu ainda não sei...
O que sei é que essa coisa de perguntar é boa...Pessoas muito importantes tem me dito que mais importante que as respostas que arranjamos pras perguntas que fazemos é continuar a fazer as próprias perguntas. Acho que acabei gostando de escrever as perguntas. E ainda tô nessa.
Tô nessa ainda....mas a diferença é que algumas coisas saíram agora, por motivos vários, tantos que fica difícil falar. Então eu escrevo.
Nem hoje, nem agora, mas o que eu posso dizer é que voltei, e agora é pra ficar.
Obrigada, palavras, pela grande paciência, e pela eterna chance de sempre poder voltar.

2 comentários:

  1. Numa dessas segundas feiras, ana, eu estava no circular pensando mesmo como as coisas muitas vezes "passam batido" pela gente, por mais que afetem, e afetem muito...

    Engraçado que, minutos depois, passei em frente a um muro, ao lado do porto, que estava escrito o seguinte "quando a gente acha que sabe todas as respostas, vem a vida e faz novas perguntas"
    Aquilo me inundou de inspiração e vontade de voltar a materializar meus pensamentos, minhas vivências... mil idéias na minha cabeça, mas cheguei em casa e não consegui escrever.

    Eu acredito que tudo que se torna significativo é digno de ser escrito, e é digno, principalmente, de todos os processos existentes entre o viver e o registrar, mas algo ainda mantém (e aumenta) a distância entre a minha vivência e o bloquinho de papel guardadinho na minha bolsa...

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  2. O que Arnaldo Antunes diria, ana? hahaha

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